terça-feira, 21 de julho de 2009

"Twittemos" todos: redes sociais nas empresas

A tecnologia não é boa ou má em si, nem útil ou inútil. O X da questão é o que se faz com ela, para qual fim ela é o meio. O que é contado abaixo, no trecho do texto escrito pelo Jornalista e Professor Wilson da Costa Bueno foi profetizado por McLuhan, na década de 60, na obra "Os meios de comunicação como extensões do homem":


O Twitter e a derrocada do autoritarismo na comunicação

Nenhuma organização se sente confortável quando um consumidor tece críticas a ela, particularmente quando isso acontece publicamente, sobretudo tendo a mídia como caixa de ressonância. Ela sempre imagina que a sua imagem resultará arranhada, o que pode ser absolutamente verdade (mas será que ela não mereceu o puxão de orelhas?).

É razoável aceitar que, quase sempre, ao ser criticada, uma organização (ou mesmo uma pessoa) entra mesmo nessa zona de desconforto, se coloca na defensiva ou busca argumentos contrários (mas nem sempre verdadeiros) para neutralizar crítica etc. Esta postura é normal porque esse negócio de dar a outra face depois de levar uma bofetada não se aplica bem ao universo dos negócios.

(...) Há uma explicação (justificativa nunca!) para essa postura: as organizações costumam ser autoritárias simplesmente porque seus diretores (ou gestores em geral) ainda estão, em sua esmagadora maioria, amarrados a uma cultura retrógrada, dinossáurica, que encara as críticas como ameaças. Eles não conseguem perceber sinais de alerta ou mesmo sugestões brilhantes que brotam do terreno da boca ou da pena (mais recentemente da tecla) do adversário.

(...) O momento exige mudanças. As organizações precisam, por uma questão de sobrevivência, conviver com a divergência porque ela será sempre maior, tendo em vista o aumento da concorrência, a visão mais crítica dos consumidores e o avanço da legislação que tolera cada vez menos abusos (embora a Justiça seja conivente com os faltosos, vide o Senado brasileiro, paraíso de mordomos, sobrinhos, netos e mausoléus!).

(...) As empresas não estão mais, embora algumas insistam em fechar os olhos para a realidade, blindadas contra as críticas porque as redes sociais, o Twitter, o Orkut, os blogs, os grupos de discussão, passaram a ser ambiente propício para esta modalidade nova de "rádio peão"eletrônica para a qual não há controle e censura que dêem jeito. Basta não andar na linha, basta desrespeitar o consumidor, praticar o assédio moral contra funcionários (...) ou prejudicar os investidores (...) para que a comunicação máquina-a-máquina funcione a todo vapor. E o ruído silencioso das redes sociais , da comunicação eletrônica é mais devastador do que o dos megafones e carros de som tradicionais.

Não há saída: a sociedade conectada não favorece o controle, torna ineficaz a estratégia antiga (infelizmente ainda utilizada em centenas de cidades brasileiras por empresas e autoridades) de cooptar veículos de comunicação em troca de anúncios, por amizade etc ou mesmo de ameaçar jornalistas/radialistas que insistem em denunciar escândalos políticos ou econômicos.

(...) As empresas devem contemplar as críticas como sinais de alerta porque boa parte delas se origina de motivos concretos ou até da sua incompetência em estabelecer diálogo com os seus públicos de interesse. Muitas preferem monitorá-las com o objetivo de desenvolver ações de intimidação ou de cooptação (continuam acreditando que toda pessoa tem seu preço!) em vez de ouvirem com mais cuidado e respeito porque consumidores, funcionários, na maioria dos casos, apenas querem colaborar, ainda que o tom não seja em princípio cordial (o que faria você se ficasse sem telefone ou internet o dia todo e dependesse deles para fechar negócios, conversar com parentes e amigos?).

As organizações precisam recrutar pessoas, especialmente líderes autênticos (há chefes que não lideram coisa alguma e que só se impõem pela possibilidade que as empresas lhes dão de chicotear aqueles que os contestam), que estejam dispostos a esta interação com humildade, praticando, interna e externamente, uma autêntica gestão de informações e de conhecimentos.

Seremos todos piratas (no bom sentido ) no futuro, mesmo que essa realidade pareça distante neste momento. Teremos que compartilhar valores, saberes, informações, conhecimentos se quisermos sobreviver em paz.

Até que isso aconteça, o negócio é resistir ao autoritarismo (o exemplo de Honduras indica que as ditaduras são cada vez menos toleráveis) de chefias, de empresas, de governos. Contra a censura, a auto-censura e o grito, usaremos o sarcasmo, a ironia, a conversa ao pé do fogo. Contra Davos o Fórum Social. Contra latifúndios (na agricultura e na mente), lançaremos mão da nossa opinião diversa, avessa à transgenia cultural e defenderemos, com veemência, a bio e a sociodiversidade.

(...) Twitter, Orkut, "rádio peão" e blogs irreverentes serão nossas enxadas eletrônicas contra empresas e chefias autoritárias. Um dia, aquela frase hipócrita - "o funcionário é o nosso maior patrimônio " (não é, Embraer?) - deixará de ser apenas um discurso vazio que freqüenta folders e vídeos institucionais e vigorará na prática.

As organizações e governos que quiserem "pagar para ver" levarão um tranco fenomenal. Quando a utopia se transformar em realidade, não haverá espaço para ditadores ou privilegiados, em Honduras ou no Senado. E isso só acontecerá, se acreditarmos nisso e estivermos dispostos a realizar as mudanças necessárias. O Twitter, o Orkut, os portais, os blogs são a nossa nova arma. Estamos nos preparando para a luta. E você está convidado.

As novas gerações darão o golpe fatal nas empresas, governos , oligarquias e patrões que, depois de terem avançado sobre o nosso passado, ainda tentam impedir no presente que a gente construa o nosso futuro.

Twittemos todos. A verdade é filha do tempo e não da autoridade (Goeth?).


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